terça-feira, 19 de janeiro de 2010

MISTÉRIO

Mistério
habita o teu eu,
enquanto desnuda,
te cubro
de palavras.
Te quero alguém.
Ninguém
te encobre
o frio,
vento e chuva,
céu que te leva
até a próxima cena.
Onde estarás?
Onde estarás pra além da cena principal?
Quem és,
quando a máscara de teu gozo fingido
te cai?
Cai.
Cai.
Cai.
Abismo que sinto
mim.

Indiferença
pedagogia
Amazonas
aprender
Conviver,
sem máscara,
persona,
Pessoa,
rede
cidade
particular
universal

ORIENTA

Os raciocínios são
absurdamente
lógico-dedutivos.

Noutras,
passeiam
livres

pulam, correm e caem.

Apanho um poema
caído do céu.

Um roteiro não pensado,
um saber desconhecido

Livremente
alternam-se
em mim

oriente e ocidente

Pode ser que sim,
pode até ser que não.

As linhas são traçadas
no mesmo tempo que me traçam.

Me componho
e recomponho
instantaneamente
a mente

Mente
mente
mente

Quem calará?

Conclusão.

LATERAL

Polariza
inclui
o excluído.
Inclui
o sim e o não.
Coexistem.
Deparo-me
escolha-escolhida
lateralizo,
depois da suspensão.
Ou estou lateralizada
pela simples opção
da realidade
que se impõem
a gosto e/ou contra-gosto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

SILÊNCIO

Ouço poetas,
me alimento de versos,
escuto instalações, esculturas e pinturas,
atravesso desertos sem fim.

Noutras horas, quase me afogo marés.
Se o silêncio me grita,
sou culpada por falar ou calar.
Tanto faz.

Cai sobre mim a sentença de todos os conflitos
e nunca escapo as sanções:
Supero o medo:
não por coragem ou insensatez.

É inevitável
que as letras me invadam
e o inusitado
se coloque como um susto de mim mesma.

Faço semblante a quem não sou.
Habito personagens estranhos.
Outros nomes me chamam e são.
Sou carregada pelo sol, pela chuva, ventania

Zoombido de folha virada, caída, varrida,
flores, pragas, sementes e jardins - como já disse o poeta.
Amanhã serei a próxima página.
Quem saberá?

Meu tempo-quando é o próximo século.

Novamente.

Do livro Infinito.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

RESISTÊNCIAS

Todas as verdades estão prontas e acabadas,
com teorias perfeitas e explicadas,
redondas ou achatadas,
ao tudo e ao nada.

O me escapa por entre,
as resistências do haver,
escapa
ao tudo que é dado.

Escapa
ao dia e ao anoitecer,
por entre brechas
escapa.

Levantem-se as resistências
e chegarão ao lugar dos sonhos,

onde moram os poetas
e os místicos deslizando:
de lugar algum
a algum lugar

Trim.
Toca o telefone.
Bateu sede.
Bateu fome.

Cá de novo,
entre nós,
entre vós,
prezado leitor.

Do livro Infinito, 2009

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

OS VENTOS QUE ME PASSARAM

Chegaram-me. Entre, ventos
tudo aquilo que por nós -
por pressa, solidão ou urgente sobrevivência -
fôra calado.

Chegaram entre ventos
os choros contidos,
tudo que nâo fôra dito,
tudo que sonhado
tenha sido arrastado
pelas auguras do viver.

Repousam entre ventos e tempestades,
todas as verdades
caladas entre nós
imputadas ao existir e ponto.

Chegaram entre nós.

Chegam, agora, mesmo,
enquanto te escrevo,
uma carta de amor,
cuja significação da palavra amor,
caberá apenas entre nós dois
e mais ninguém.

Entre nós, a brisa infinita do que não fomos,
do que apenas podemos,
do que sobrevivemos
meu braço, agora, sobre o teu,
braço incansável,
amor,
em acreditar.

Dormes, agora, sem minha agonia senhora,
dormes, agora,
sonha
e, amanhã, tua crença acalantará
sublimes gestos.

Do livro Infinito, 2009